Um Bucado de Florianópolis
- favettagiovanna
- 3 de abr.
- 12 min de leitura

Essa é a série onde eu falo das minhas experiências nas cidades que passei vivendo como nômade. Não é um guia, nem um review, mas um pouco do que fiz no tempo que passei em cada lugar e minhas impressões sobre ele, além algumas dicas de sobrevivência.
O primeiro é sobre Florianópolis, também a primeira cidade que fiquei na minha viagem. Nossa passagem foi bastante atípica, porque depois de anos de planejamento de viagem meu cronograma foi entrecortado pelo mural que fui convidada a pintar em São Paulo, a pintura comeu uma semana de hospedagem e me deixou um pouco maluca, mas fora isso a nossa passagem pela cidade foi muito legal, então vamos a ela.
Transporte
Eu não sei dirigir e uber é caro então eu praticamente só ando de ônibus, essa é a sessão onde falo um pouco de como se locomover de transporte público.
O sistema de transporte de Florianópolis não possuí trens, metrôs, nem VRTs e é feito somente por ônibus. A passagem tem diversos valores para moradores, estudantes e turistas, quando estive lá em 2025 a passagem para turistas custava R$6,75 no cartão Passe Rápido, o cartão pode ser adquirir no terminal TICEM ao lado da rodoviária e custa R$3. A recarga do cartão pode ser feita no próprio terminal ou através do aplicativo Floripa no Ponto, o crédito é validado automaticamente ao passar o cartão no ônibus.
Vi muitas reclamações sobre o sistema de transportes na internet, mas no geral achei razoável, os ônibus passam mais ou menos no horário seguindo o Google Maps, são bem conservados e possuem integração através de terminais ou pelo cartão de transporte, além abrangerem bem a cidade. O revés é o preço da passagem e indo para o norte da ilha o trânsito é bem complicado.
O Uber é uma possibilidade, mas recomendo não depender exclusivamente dele, domingo por exemplo tem poucos carros rodando e o preço é absurdo.
Alimentação
Sessão onde falo sobre a comida de cada cidade, como nômade eu raramente como fora, geralmente alugamos uma hospedagem com cozinha e meu consagrado Mayke prepara praticamente tudo em casa, inclusive os lanches dos passeios (mais sobre comida de viagem lá no blog dele), então minhas impressões alimentares são mais sobre mercado e comida de rua.
Dizem que o preço de mantimento de Florianópolis é um dos mais caros do país, vindo de São Paulo os valores estão equiparados nos grandes mercados, mas São Paulo não deveria ser medida pra nada. Recomendo procurar algum dos grandes atacadistas existentes na ilha, os preços dos mini mercados de bairro esses sim são impraticáveis e apenas para emergências.
Fomos no Fort Atacadista que tem uma boa variedade, (exceto grão de bico enlatado por algum motivo). No centro da cidade existe uma loja a granel boa pra abastecer o armário de temperos e de proteína de soja (mesmo pra quem não é vegetariano é um ingrediente muito prático).
Aparentemente existem dois tipos de pastéis, o pastel comum de feira, grande e retangular, o que provei no centro era péssimo. E um segundo tipo, menor e com formato arredondado semelhante a uma empanada, comi desse no Mercado Municipal e foi um dos melhores pasteis que já provei, hiper recheado e com uma ótima massa.
A pizza custa em 2025 cerca de R$60 em média fora dos bairros menos turísticos, o local onde pedi ela veio muito bem recheada e a massa era ótima.
Outra ótima surpresa foi o Mini Kalzone. Há alguns anos atrás íamos muito nessa rede em São Paulo que vendia pequenos Kalzones a R$10, ótimos e muito recheados. Ficamos orfãos quando eles fecharam suas franquias na cidade, mas descobrimos chegando por aqui que a rede seguia firme e forte em Santa Catarina e (melhor parte) o Kalzone segue custando R$10.
Passeios
Nessa sessão eu falo sobre o que fiz no tempo que passei na cidade, geralmente focados em ecoturismo, museus e os rolês mais aleatórios que conseguir encontrar.
O centrinho
Nosso primeiro passeio foi conhecer a região central de Florianópolis onde fiz uma lista de lugares de interesse.
No geral o centro antigo é muito bem-organizado, o Mercado Municipal tem lojinhas de bugigangas pra turistas, restaurantes de vários preços e lojas de produtos típicos. Recomendo muito levar um pedaço de queijo Colonial, comprei pra experimentar e acabei voltando várias vezes pra comprar mais no mês que ficamos por lá.

Ao redor um centrinho comercial e próximo a ele alguns museus interessantes pra conhecer a pé:
· Museu Victor Meirelles: conta com obras do artista e de outros contemporâneos.
· Museu Histórico de Santa Catarina: Fica em um prédio construído em 1785 e conta com um ótimo acervo de peças com importância histórica.
· Casa da Alfândega: Galeria de artesanato localizada em um dos principais pontos do centro histórico
· Museu de Florianópolis: Um bônus que não conseguimos visitar, pois não abre de terça-feira:(, parceria com o Sesc com diversas exposições.
Eu não sou a pessoa que curte sair de noite, então não consigo indicar bons bares e festas, mas o pouco que conheci da noite na ilha achei muito interessante. O centro me passou uma sensação de segurança que nunca senti em São Paulo (veja bem, não é seguro 100%, mas meu comparativo é bem baixo), a rua de bares é movimentada e com pessoas diversificadas, a música é boa e os preços de comida e bebida são razoáveis.

Trilhas
Florianópolis foi uma capital que me surpreendeu muito pela geografia. A última coisa que espero ao conhecer uma capital é encontrar mato, geralmente foco mais nos passeios culturais da região, mas a cidade tem esse equilíbrio incomum de natural e urbano, onde você pode começar o dia em uma trilha remota e terminar em uma sessão de cinema tcheco (exemplo baseado em fatos).
Trilha Naufragados
Localizada no extremo sul da ilha é uma trilha tranquila de 3km, sendo possível chegar de ônibus até o ponto de entrada. Logo no início conhecemos um casal de turistas chilenos que nos acompanharam durante o trajeto, o rapaz tinha pavor de aranhas, um ponto que talvez não recomende muito o local para os aracnofobicos visto a quantidade massiva de Aranhas de Prata nas árvores (espécie inofensiva).
Seguimos esse caminho do Wikiloc que nos permitiu conhecer dois trajetos diferentes de ida e volta. Ao chegar na praia é possível ir até o final e subir por uma costeira até os canhões e depois ao farol, que é fechado a visitação por ser área militar, infelizmente.
O caminho é bem aberto e demarcado, a única dificuldade é o declive razoável na ida e na volta, os mais sedentários podem sofrer um pouco, mas a vista e a natureza exuberante certamente compensam.

Caminho da Gurita
Localizada nas margens da Lagoa do Peri, também no sul da ilha, a trilha de 6km leva até uma cachoeira e no final existe a possibilidade de alugar um caiaque pra fazer o retorno pelo rio, teoricamente.
Começamos essa trilha pois tínhamos outros planos na região e a ideia de voltar de caiaque pareceu muito legal. Infelizmente ao chegarmos por volta das 13h no final do trajeto a última viagem estava partindo e não teriam outras naquele dia, então não recomendo fazer a trilha contando com o retorno por água, já que não tem como reservar com antecedência.
Deixo avisado também que não é de maneira alguma uma trilha fácil, além de o relevo considerável várias partes do caminho são bloqueadas por pedras, sendo necessário algum condicionamento físico pra subir, escalar e pular.
A natureza é muito bonita e a lagoa tem paisagens lindas, mas o desgaste físico é grande, recomendo iniciar cedo com roupas adequadas, levar um lanche e reservar o dia pra esse passeio.

Parque das Dunas
Antes de começar a pesquisa pra essa viagem eu não fazia ideia de que existiam dunas em Florianópolis, pois elas existem e são fantásticas. O Parque Municipal das Dunas da Joaquina é um complexo que abriga uma reserva ecológica e diversas trilhas entre as dunas, o mar e a vegetação rasteira.
Para chegar fomos de ônibus pela Av. Vereador Osni Ortiga e descemos na altura da Rua Servidão da Lua, onde chegando ao final tem uma entrada para o Parque. Não existem trilhas demarcadas, o lugar é aberto e você decide o caminho que prefere trilhar. As dunas formam uma divisão natural que termina na Praia de Joaquina.
Essa foi um dos lugares que mais gostei de conhecer de Florianópolis, quilômetros de uma vegetação única cortada por pequenas lagoas com vários tipos de pássaros e lagartos, terminando em uma praia, um cenário digno de um sonho febril.
Passamos o dia caminhando, com certa dificuldade é verdade, na areia fofa sem ver uma alma viva e nos sentindo em algum filme do Ghibli. Até chegarmos ao final e nos depararmos com uma das praias mais movimentadas da ilha, barraquinhas, jet skies e música, o que só colaborou pra aura de sonho do lugar. O parque é uma barreira que os turistas praieiros não ousam ultrapassar, enquanto de um lado se tem uma típica praia super movimentada, em questão de metros surge uma natureza vazia e intocada. Certamente um lugar surpreendente.
Também ao final temos outro ponto famoso acredito que o limite turístico do parque, o Skibunda. Nas dunas maiores que fazem divisa com a Lagoa da Conceição uma empresa aluga pranchas por R$40 a hora e é possível fazer Sandboard e Skibunda com alguma ajuda dos instrutores, demora um pouco pra pegar o jeito e cair de cara na areia é uma certeza, mas a experiência é bem divertida.
Aqui preciso fazer algumas recomendações por experiência própria. Vá preparado para o sol com roupas adequadas, protetor solar, chapéu e óculos. A areia clara reflete a claridade e praticamente não existem árvores no caminho. O calçado também é bem importante, o Mayke foi de chinelo, acabou queimando e furando o pé com espinhos em alguns pontos, mas tênis podem ser desconfortáveis por conta da areia. Eu fui com os meus tênis aquáticos e foram uma ótima escolha já que eles protegem os pés e são friáveis, então não acumulam areia dentro.


Trilha morro da coroa + Lagoinha Leste + Trilha do Matadeiro
Nesse dia escolhemos fazer várias trilhas em uma, seguindo esse caminho do Wikiloc, porém começando de forma inversa chegando de ônibus na praia do Pântano do Sul. Pra mim fez mais sentido iniciar o trajeto pelo caminho mais íngreme quando se está descansado.
A trilha do Morro da Coroa é uma das mais conhecidas de Florianópolis, principalmente por um famoso ponto de foto que existe no topo do morro. Por conta disso essa foi, sinceramente, uma das que menos gostei, demorou horrores pra chegar ao topo, pois constantemente precisamos parar e dar passagem a outros viajantes e grupos, muitos ouvindo música. Já adianto que embora seja uma trilha popular esse caminho não é fácil, se não tiver alguma experiência com trilhas repense, a subida é bastante íngreme e tem muitas pedras pelo caminho que podem ser perigosas.
A quantidade de grupos é devido a agências e guias que cobram valores altos pelo passeio, é claro que um guia pode te dar informações úteis sobre o local, mas a trilha é aberta e pode ser seguida de forma autoguiada e gratuita, contando com placas e indicações no caminho. Embora o relevo seja um desafio e exija condicionamento físico, não existem grandes mistérios no trajeto.
O topo do morro é realmente magnifico, a vista da praia e das pedras é única, mas novamente admito que a quantidade de grupos, cantorias e pessoas circulando atrapalha um pouco. Isso é algo muito pessoal, mas quando vou pra passeios na natureza gosto de ficar somente com a natureza...

Depois de chegar ao topo existe a possibilidade de voltar um pouco na trilha e continuar descendo para a Praia da Lagoinha, ou como fizemos, talvez de forma imprudente, seguir pelas pedras. A costeira do morro tem uma trilha onde é possível descer cerca de 2km pelas pedras até chegar a praia, mas já adianto que é bem perigoso. Muita gente opta por esse caminho por ser muito mais rápido, mas existe uma chance enorme de escorregar, cair ou torcer o pé na tecida íngreme, vá com cautela.
Outra forte recomendação de segurança é evitar o trajeto em dias de sol muito forte. As regiões de pedras costeiras não têm nenhum tipo de cobertura natural e as pedras podem ficar perigosamente quentes. Tivemos sorte em pegar um dia nublado, que acinzentou nossas fotos, mas nos salvos de alguns perrengues.
Finalmente chegamos na Praia da Lagoinha Leste, aqui quem estiver cansado pode optar pelo retorno de barco para Pântano do Sul por um valor nada módico. Embora a praia seja de tombo e só recomendada pra surfistas, as pequenas lagoas que desaguam na praia são calmas e mais quentes, rodeadas de algumas dunas, o lugar é belíssimo.
Seguimos da praia pela trilha do Matadeiro, uma região de preservação permanente que leva esse nome por ser um ponto de abate de baleias em tempos remotos e não muito amigáveis.
A trilha, muito mais vazia que a primeira, tem um relevo menos acentuado e segue por alguns quilômetros através da costeira rochosa até entrar em uma área de mata. Essa região costeira, embora muito cansativa e um pouco perigosa, é sem dúvida magnifica. Local onde águias fazem seus ninhos, o mar segue a perder de vista e a vegetação envereda pelas pedras, também parece ter saído de algum sonho.

O caminho é longo, mesmo começando cedo chegamos ao final na praia da Armação já ao cair da tarde. E, tal qual o final de um jogo quando sobem os créditos depois de uma loja jornada, começamos de longe ao ouvir uma música. Chegando na praia descobrimos que o bar Austrais estava fazendo uma festa com uma banda de sopro ao vivo com direito a saxofone, trombone e trompete (????) e eles eram ótimos! Ficamos pra curtir a música, Mayke pediu um chope e eu um milk shake muito bem servido, o que foi um fechamento surreal e excelente pra um dia maluco.

Mergulho
Durante nossa estádia na ilha eu quis tirar uma licença de mergulho Scuba. Contextualizando existem dois tipos de experiências básicas do mergulho com cilindro: o Mergulho de batismo, onde você só recebe instruções simples e tem uma experiência rápida junto a um instrutor e o curso de mergulho, mais longo, com aulas teóricas e um certificado.
Eu amo nadar no mar, mas nunca tinha feito mergulho com cilindro, decidi fechar com a agência Água Viva um curso completo que me daria o certificado e a possibilidade de fazer mergulho em outros locais do Brasil durante nossa viagem.
As aulas teóricas são através da plataforma Padi, uma organização internacional de mergulhadores, contam com horas de conteúdo e provas. As aulas práticas acontecem em três dias, um em piscina e quatro mergulhos embarcados na Ilha do Arvoredo, uma reserva ecológica há alguns quilômetros do norte de Florianópolis.

A ilha é realmente linda, os arredores são lotados de peixes que vem se alimentar do musgo das pedras, além ocasionais tartarugas e arraias. O mergulho é algo único, devo concordar com a descrição que é o mais próximo que se pode chegar de ser um astronauta.
Por mais que eu tenha curtido a experiência talvez eu recomende reservá-la pra uma viagem específica com esse objetivo. Como dito nós viajamos com a ideia de conhecer a ilha e trabalhar, o curso exige dedicação e acaba limitando outras experiências na região. Também é necessário se hospedar no norte da ilha, um local mais turístico e consequentemente mais caro, tenha isso em mente ao planejar sua viagem.
Rolês aleatórios
Eu realmente amo descobrir coisas diferentosas pra fazer nas cidades que visitamos, e aqui estão algumas opções legais que encontrei em Florianópolis.
· Projeto Lontra: Uma reserva ecológica voltada pra Mustelídeos resgatados, grupo que inclui as lontras, furões e ariranhas. O lugar é muito interessante e os animais adoráveis e muito bem cuidados, o espaço faz um ótimo trabalho de educação ambiental.

· Sesc Prainha: Eu sempre gosto de dar uma olhada nos Sescs da região que estou, dessa vez o Sesc Prainha estava exibindo um Festival de Cinema Tcheco todas as Quintas-feiras a noite.
· Cooperbarco pela Lagoa da Conceição: A Lagoa da Conceição é um lugar belíssimo, descobri que a Cooberbarco faz o transporte de moradores e turistas por via fluvial diariamente. O passeio por si só já é lindo, as margens da Lagoa são muito bem preservadas, nós descemos na parada 16 que conta com uma pequena vila e uma cachoeira de fácil acesso. Fizemos esse passeio em uma quarta-feira pela manhã, o que foi ótimo porque pegamos o barco junto as crianças e professores indo pra escola (é surreal pensar que algumas pessoas fazem esse trajeto diariamente), tudo estava vazio pelo horário e pagamos somente R$4 de passagem por conta do horário*. *Em outros horários o trajeto custa R$15 cada sentido

· Orquestra Brasileira no Largo da Alfandega: Esse foi um programa super específico que estava rolando quando estávamos na ilha, uma apresentação de orquestra gratuita no centro da cidade e foi surreal de bom. Florianópolis tem muitas opções culturais interessantes, recomendo pesquisar no Instagram e na internet a programação e descobrir se no período que estiver por lá tem algo legal rolando.

E esse foram meus quase dois meses levemente caóticos em Florianópolis. Me apaixonei pela ilha e tem muitas coisas da minha lista que ficaram faltando e talvez rolem em uma visita futura. Achei um ótimo começo pro nosso mochilão e mal posso esperar pelo que o Brasil nos reserva.
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