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Um mês de descanso e trilhas em Teresópolis

Atualizado: há 7 dias


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Essa é a série onde eu falo das minhas experiências nas cidades que passei vivendo como nômade. Não é um guia, nem um review, mas um pouco do que fiz no tempo que passei em cada lugar e minhas impressões sobre ele, além algumas dicas de sobrevivência.

Depois de dois meses caóticos rodando por Minas Gerais seguimos nossa viagem para a cidade de Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro.

É claro que eu fiz várias pesquisas sobre o que fazer na cidade, mas a realidade é que nossa expectativa com Teresópolis era a de descansar. Minas Gerais foi surrealmente cansativo e precisávamos de algo mais tranquilo pra recarregar as energias. Por coincidência Teresópolis acabou sendo o lugar ideal pra isso.

A primeira descrição que ouvi da cidade foi que era uma “região de velhinhos” e ela realmente passa essa energia. Uma cidade pacata, rodeada por belíssimas montanhas, com um clima ameno e cheia de possibilidades pra quem curte natureza.

É verdade que a cidade é o paraíso dos trilheiros, porém o que nos chamou a atenção no tempo que estivemos por lá foi a qualidade de vida que ela oferece.

Começando pelo ponto alto da nossa estádia que foi a comida.

Teresópolis se orgulha de seu cinturão verde, uma área que abriga produtores agrícolas e basicamente alimenta todo o estado do Rio de Janeiro.

Esse acredito que seja um dos pontos mais relevante quando se fala em qualidade de vida, morar em um lugar onde se produz comida para os seus moradores. Isso se reflete na quantidade de sacolões e abundância de comida fresca na cidade por preços absurdamente baixos.

Cheguei a ver morango a R$3 a bandeja, enquanto em outras cidades (inclusive no litoral de São Paulo onde moramos por anos) ele chegava a R$14. Beira a revolta os preços da alimentação em Teresópolis, por te fazer pensar que aquilo era possível o tempo inteiro.

Nunca serás esquecido morango de R$3
Nunca serás esquecido morango de R$3

Outro ponto crucial é a presença da natureza na vida cotidiana, a cidade é tida como capital de montanhismo no Brasil e o ecoturismo é uma presença constante. Sei que muita gente ama a vida em cidade e prefere um porcelanato a qualquer mínimo contato com algo de verdade, mas pra mim, particularmente, é impossível imaginar qualidade de vida sem natureza.

É claro que a cidade ainda tem seus rios tristemente poluídos, mas pra qualquer lado que se vá existe um parque incrivelmente preservados, com uma fauna e flora rica e diversa.

O transporte é, assim como na maioria dos lugares que passamos, uma questão complicada. A cidade conta com ônibus que ligam os principais pontos e utiliza o bastante cômodo Riocard +. Até que conseguimos nos mover razoavelmente bem com o sistema de transporte, porém é muito demorado. De domingo ainda existe a gratuidade, o que é ótimo, mas torna tudo ainda mais escasso e imprevisível.

Dos lugares que passamos até então Teresópolis se mostrou com uma das melhores qualidade de vida, brigando talvez com Curitiba, mas seu tamanho reduzido e preços mais razoáveis a coloca com uma vantagem considerável.

Agora um resumo e dicas do que fizemos por lá, fora comer muito bem e passar horas na rede admirando a paisagem.


Dificil querer sair quando essa era a vista do Airbnb
Dificil querer sair quando essa era a vista do Airbnb

 

Exposição de Carros Antigos

Coincidentemente enquanto estávamos na cidade teve a 42º exposição de carros antigos de Teresópolis e foi incrivelmente legal.

O evento acontece no golf club, é um dos maiores do tipo no país e tem entrada gratuita. São centenas de veículos históricos super bem preservados, junto com barracas de comida e expositores de antiguidades.

Super recomendo pra quem for conhecer a cidade tentar planejar a visita no fim de semana do evento, vale muito a pena. 


Lembram quando os carros tinham cores??
Lembram quando os carros tinham cores??

Centrinho

Sendo sinceros nós ficamos muito pouco no centro turístico da cidade, mas fomos conhecer a feirinha de artesanato e arredores.

A feira é enorme, tem muitas opções de roupas, itens pra casa e comidas artesanais. Compramos algumas guloseimas, mas a parte de compras é sempre complicada pra nós nômades com mochilas ridiculamente pesadas, é claro que passamos algumas vontades.

O shopping ao lado também é bem simpático
O shopping ao lado também é bem simpático

 

Pedra da Tartaruga

Começando nossas andanças ecoturísticas, nós fomos até o Parque Municipal das Montanhas de Teresópolis na portaria da Pedra da Tartaruga. 

A entrada é gratuita e ficava próxima a nossa hospedagem. Fomos a pé até ela em uma manhã ensolarada, seguindo esse caminho do Wikiloc.

A subida até a Pedra foi bem íngreme, mas valeu extremamente a pena. O dia estava lindo e nos deu uma vista panorâmica da imensidão das Serras do Rio de Janeiro, isso enquanto fomos brindamos pela presença de tucanos e lagartinhos simpáticos.


A beleza do nascer do sol na Pedra da Tartaruga
A beleza do nascer do sol na Pedra da Tartaruga

 

Parque Estadual dos Três Picos

No outro fim de semana fomos até o Parque Estadual dos Três Picos. Começamos a caminhada na portaria do Núcleo da Revolta, é possível chegar até ela de ônibus indo até o ponto final da linha 41-A e caminhando alguns metros na avenida, a entrada é gratuita.

A área é bem cuidada e conta com trilhas fáceis como o Caminho das Centenárias, que abriga diversas árvores de grande porte, além uma enorme área central de piquenique e camping.

O nosso objetivo era chegar ao Pico do Urubu, um cume de 1300m de altitude, com uma vista panorâmica dos arredores.

A trilha em direção ao topo é fácil, mas bastante cansativa, a elevação tem trechos íngremes que exigem um tanto de fôlego, mas pra mim valeu muito a pena. A vegetação vai mudando ao longo da caminhada entre Mata Atlântica, bambuzal e uma vegetação de altitude peculiar e incrivelmente bonita.

Nós fomos em um dia um tanto nublado, mas eu ao menos adorei a vista. A sensação surreal de estar acima das nuvens é tão aterradora quanto a visão aérea do mundo. 



Na volta escolhemos, ao invés de retornar pelo caminho da ida, fazer a travessia até o núcleo Jacarandá, outra sede do mesmo parque, o que alongou a trilha, mas nos permitiu vistas diferentes do caminho.


Parnaso

Um dos principais atrativos da cidade é sem dúvida a portaria de Teresópolis do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, uma das maiores e mais antigas reservas ambientais do país. Ela é muito conhecida como porta de entrada para a lendária travessia Petrópolis – Teresópolis, uma trilha de 3 dias só enfrentada pelos montanhistas mais experiências (e corajosos).

Deixamos a ida ao Parque para o último dia na cidade e fico feliz de conseguirmos visitar porque é um lugar muito único e que não podia ficar de fora. Fomos até lá com o nosso super solícito anfitrião do Airbnb, que nos apresentou ao Parque e nos contou um pouco sobre a cidade.

O Parnaso tem entrada gratuita, mas ainda assim possuí uma das melhores infraestruturas que vimos em Parques nacionais até o momento. Com uma portaria muito bem-organizada, piscinas naturais super conservadas, trilhas demarcadas e até mesmo um caminho suspenso entre a copa das árvores. Além contar com áreas de camping e de piquenique a disposição.


A belíssima entrada do Parque
A belíssima entrada do Parque

Fizemos as trilhas que sobem até os picos e contam com mirantes com uma vista fantástica da cidade. Dessa vez o dia estava lindo e pudemos contemplar toda a beleza de Teresópolis emoldurada por sua cadeia de montanhas.


A vista do topo da trilha Mozart Cantão
A vista do topo da trilha Mozart Cantão

Segundo nosso anfitrião o lugar durante o verão atinge capacidade máxima, formando uma fila de carros na entrada. Eu adorei o Parque, mas evitaria ir em alta temporada. 

Petrópolis

Reservamos um fim de semana da nossa estádia na região pra conhecer a vizinha Petrópolis. Ela é maior e mais famosa que Teresópolis, embora ainda seja uma cidade pequena já possui a infraestrutura e o “ar” de centro.

Reconhecida como a casa de verão da antiga família real Portuguesa, Petrópolis conta com um forte apelo ao turismo histórico. A cidade tem sua infraestrutura muito bem conservada e é um prato cheio aos amantes de museus.

Da rodoviária é possível fazer o traslado de ônibus entre as duas cidades. O caminho inclusive é o ponto alto, a rodovia margeia o Parnaso e a vista em dias de sol é incrível. Estranhamente a rodoviária fica em uma área distante, chegando ainda é necessário pegar mais 40 minutos de ônibus até a região central.  

A cidade realmente tem muita coisa pra fazer e merece mais de um dia pra ser explorada. Por aqui escolhemos gastar o sábado conhecendo o centro e o domingo fazendo trilha pra esquecer que vimos tanta gente no sábado.

Fica a curiosidade que Petrópolis conta com um “Passaporte Imperial” um miniguia interativo em forma de caderno onde é possível carimbar cada ponto turístico visitado, compramos o nosso por R$15 em frente ao Palácio de Cristal.


A proposta é semelhante ao Passaporte da Estrada Real, que ficamos bem frustrados de não conseguir retirar durante a nossa passagem por Minas Gerais. Ironicamente em Petrópolis finalmente conseguimos pegar um no centro de informações turísticas, esse ainda veio com um mapa indicando o trajeto da Estrada Real. Fica guardado pra quando voltarmos a Minas Gerais.


Foi um dia feliz para os designers que amam uma papelaria.


Por uma enorme coincidência calhou de visitarmos a cidade no mesmo fim de semana do Comer & Beber Experience, um evento oferecido pela Revista Veja. A proposta era oferecer cardápios de diversos chefes famosos durante o evento e uma programação de shows. Eu não sou o público da alta gastronomia, mas a agenda cultural foi muito bem-vinda.  

Começamos nossa caminhada pelo Museu Imperial, que guarda a memorabília da família real. A entrada custa R$10 a inteira, porém por conta do evento da Veja a fila estava quilométrica, o que nos fez desistir de conhecer a casa principal e ficamos apenas pelos jardins e na exposição de carruagens cuja entrada é gratuita.

Sinceramente não foi uma perda tão grande, eu adoro visitar museus e entendo o valor histórico daquilo, mas itens pertencentes aos colonizadores inevitavelmente possuem um gosto amargo.  

Seguimos até a Catedral São Pedro de Alcântara. Um prédio magnifico em estilo gótico e com vitrais incríveis, a entrada foi gratuita (sim Minas Gerais, foi uma indireta).


Os vitrais filtram a luz e toda a catedral fica multicolorida
Os vitrais filtram a luz e toda a catedral fica multicolorida

Um pouco a frente fica o Palácio de Cristal, uma estrutura de vidro construída no século XIX como uma estufa, mas que hoje é utilizada como área de shows. A estrutura é realmente muito bonita, possui entrada gratuita e no dia que fomos estava tendo uma apresentação de dança das escolas da região.


Basicamente a estufa do Jardim Botânico de Curitiba menos hypada
Basicamente a estufa do Jardim Botânico de Curitiba menos hypada

A cidade também é famosa pela Casa de Santos Dumont, talvez o segundo morador mais famoso de Petrópolis. A entrada custa R$10 e vale a visita, o prédio em si é a antiga residência de Dumont e foi projetado por ele mesmo, possuindo uma arquitetura única. A parte de cima abriga uma exposição com maquetes que contam a história da invenção do avião e nos lembra que qualquer coisa voa com um estilingue.


Apaixonada na escadaria que sube até o telhado da casa <3
Apaixonada na escadaria que sube até o telhado da casa <3

Saímos do museu já no final da tarde e decidimos subir a pé o morro até o Trono de Fátima. Um templo localizado em um mirante com uma vista 360º da cidade, na entrada pedem uma doação voluntária ao espaço, que aos católicos pode ser convertida em uma prece a Santa. Ótimo lugar pra ver o por do sol e admirar a cidade.


A vista do Trono de Fátima
A vista do Trono de Fátima

Fechamos o dia nas escadarias da Catedral de São Pedro, durante o evento da Veja um show do Toquinho estava na programação. Não posso dizer que vimos o show, pois ele aconteceu em um nível inferior à rua e era impossível ver qualquer coisa. Foi lindo de qualquer forma, só espero que repensem o espaço nas próximas edições.

 

Trilha do Caminho do Ouro

Partindo pra domingo, já um tanto mortos pela andança do dia anterior ainda queríamos fechar com uma trilha pela cidade.

Pesquisamos várias das muitas opções de trilhas em Petrópolis, mas acabamos escolhendo o menos conhecido Caminho do Ouro, um trajeto que liga Petrópolis a Raiz da Serra em Magé.

O início da trilha é no bairro Alto da Serra, diversos ônibus fazem o trajeto até a região. Embora o começo oficial seja na Ponte dos Arcos Grota Funda, uma ponte do século XIX onde costumava passar o trem sentido Rio, recomendo descer do ônibus um pouco antes e admirar a vista panorâmica da Baia de Guanabara visível em dias limpos.


Ao fundo o Rio de Janeiro e a Baia de Guanabara
Ao fundo o Rio de Janeiro e a Baia de Guanabara

Essa é uma trilha fácil, são 7km de descida (quando iniciada de Petrópolis). Ironicamente esse é justamente a dificuldade dela, o equilíbrio necessário pra manter o ritmo em tanto tempo de descida cansa o corpo mais do que parece.

O trajeto é não apenas uma oportunidade de observar a beleza da mata atlântica, mas uma área de imensa relevância histórica. O percurso todo feito seguindo a estrada de pedra construída no século XIX para se transportar minério até o litoral. Ainda é possível ver as ruinas de prédios e utensílios utilizados pelos carregadores.


O calçamento de pedra que era utilizado no transporte do ouro
O calçamento de pedra que era utilizado no transporte do ouro

O dia estava bonito e ensolarado, passamos o mês de setembro na região serrana e nos acostumamos com o clima ameno, mesmo em dias de sol a temperatura não era muito alta. Porém nesse dia em específico uma onda de calor atípica passou pela região e cada passo que dávamos em direção ao litoral ficava mais quente e abafado, começamos a trilha por volta dos 23º e terminamos perto dos 38º. Foi a mudança mais brusca de temperatura que já senti e me fez entender o conceito de casa de veraneio em regiões mais altas.  

Chegando em Magé existe a opção de pegar um ônibus de volta até Petrópolis, porém nós iriamos para Teresópolis, por isso atravessamos a cidade (em um calor surreal) e fomos até a rodoviária mais caótica que já vi voltar a nossa hospedagem.


Esse foi o resumo dos nossos dias em Teresópolis, um dos lugares que mais me apaixonei durante o mochilão. Terê não estava no nosso itinerário de viagem, mas foi uma grata experiência que tivemos o prazer de conhecer, a região serrana do Rio guarda ótimas surpresas.

Agora arrumamos nossas malas rumo a Arraial do Cabo e à salgada Região dos Lagos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

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